Recentemente um grupo de crianças
pequenas passou por um teste muito interessante[1].
Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças
executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois
de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é
inteligente!”, “Que esperta que você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto
você é genial!” ... e outros elogios à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao
esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!”, “Menino,
que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou,
tentou, até conseguir, muito bem!” ... e outros elogios relacionados ao
trabalho realizado e não à criança em si.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira
foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a
tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência.
As respostas das crianças
surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a
segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas
as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a
compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de
experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não
querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois
isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir,
eles não vão mais dizer que sou inteligente”. As “esforçadas” não ficam com
medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado.
Nós sabemos de muitos casos de jovens
considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens
“médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade
e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem
um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram
mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma
das disciplinas.
No entanto, isso não é
tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender
valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o
preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se
consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É
preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com
elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.
Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou,
você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de
estar com medo... você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado
atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas
fizeram... você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com
seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”. Elogios desse
tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança
que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.
Por outro lado, elogiar superficialidades
é uma tendência atual. “Que linda você é amor”, “acho você muito esperto meu
filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão
bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em
comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos
adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais,
birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido
resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.
Homens e mulheres de personalidade
forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os
ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas
grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra
fértil.
Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura
firme e carinhosa.
Texto do professor Marcos Meier
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